16 de jun. de 2010

12/06 Villach a Begunje - 75Km

Antes de sair de Villach, procurei um Spar pra comprar tudo o que eu ia precisar pra aguentar a viagem de hoje. Comprei bananas, maçã, um bolo de chocolate (muito bom), isotônico e água reserva além das 2 garrafas que eu já levo normalmente. Não sei como vai ser o Wurzenpass, mas os outros 3 que eu passei foram bem puxados então dessa vez quis ir preparado pro pior, ahahahha... Na saída do Spar, um senhor puxou conversa comigo e começou a dar sugestões de roteiro pra mim, falou que Bled não é mais bonito do que um lago que existe entre Villach e Klagenfurt, perguntou coisas do Brasil, insistiu pra que eu comprasse um mapa da Áustria e etc... E o tempo passando... E eu querendo ir embora logo porque já era quase 12h00 e eu não sabia como o dia ia ser.Mas o tiozinho foi tão gentil e atencioso que eu não tive como cortar a conversa. No fim ele me desejou boa viagem e segui adiante. Saí de Villach e andei no plano por uns 10km, até começar a parede do Wurzenpass. Nesse ponto, ainda no plano, não foi a primeira vez que vi uma plantação de morango onde você mesmo pode colher os morangos e depois pesar e pagar em uma barraquinha que fica na saída da plantação. Não tive paciência/tempo pra colher e preferi comprar uma caixa pronta pra levar comigo na subida. E aí começou o trecho mais difícil da viagem até agora: 7,5km de 18 gruas de inclinação em média. Isso significa que mesmo subir a pé, andando sem carregar nenhum peso, já é difícil. Sem contar que a estrada não tem acostamento, só alguns recuos de segurança de vez em quando. Comecei a subida e a bike parecia 3 vezes mais pesada, mas fui aguentando. Fazia uma parada pra aliviar as pernas a cada 500m e assim fui. Durante a subida vi uns motoristas fazendo um sinal de apoio pra mim, como incentivo pra eu seguir firme. Depois de 2h30 de morangos, suor, morangos, água, morangos, isotônico, morangos e bolo, finalmente cheguei ao topo. Por acaso, bem no topo, havia um semáforo controlando a passagem dos carros na estrada que estava em obras. Então por uns minutos só uma pista ia e a outra esperava e vice-versa (no Brasil isso é feito com aqueles caras com umas bandeirinhas laranja pedindo pra gente esperar). Na hora que eu cheguei no topo, o semáforo estava fechado pra quem estava descendo então vi aquela fila de carros me olhando quando, do nada, dois caras de carros diferentes começaram a me aplaudir e parabenizar por ter chegado ali com a bike carregada. Ahahahhhaha... A sensação foi muito boa, eu realmente não esperava por isso! O curioso é que realmente não vi ninguém mais subindo o passo durante todo o tempo que eu estive na estrada então fiquei com a sensação de ter realmente feito algo que pouca gente faz. Uns 500m depois cheguei na fronteira Áustria/Eslovênia, onde NENHUM funcionário trabalhava nos guchês (por toda a Europa é assim) então a entrada foi até sem graça, eheheh... Você simplesmente passa como se não existisse a fronteira. Já de cara comecei a ver as placas escritas em esloveno e me senti realmente num lugar completamente novo e diferente. A Eslovênia era o primeiro país que eu ainda não conhecia. Logo depois da fronteira, finalmenteuma descida pra renovar os ânimos. Em 10 minutos eu estava lá embaixo, no vale onde fica Kransjka Gora, Bled, Radovljica e todas as outras cidades que vão pra Ljubljana. Parei em Kransjka Gora pra descansar um pouco e comprar água num supermercado. A cidade é pequena mas bem bonita e organizada, vi bastante turistas inclusive. Segui de lá no caminho pra Bled e na maior parte do tempo pedalei na ciclovia que segue em paralelo à estrada principal, que também não é tão movimentada nem grande assim, mas onde é proibido andar com a bike. Esse trecho foi muito bonito. A paisagem era bem legal mas a ciclovia era tão boa pra pedalar que não quis parar muito pra fotografar. Fiquei sabendo que essa ciclovia é tão plana e bem desenhada porque antigamente era onde ficavam os trilhos da linha férrea. Eles construíram a ciclovia por cima e por isso a "perfeição". O caminho parecia uma "cicloestrada", de tão bom que era o asfalto e a sinalização. Me perguntei depois onde construíram a nova ferrovia, se é que construíram ou se infelizmente optaram pelas rodovias. No embalo, os kms foram passando e a paisagem ficando cada vez mais diferente, com menos montanhas e algumas paisagens começaram a lembrar o Brasil, com montanhas baixas e vegetação parecidas com as que temos aí. A língua diferente continuava a chamar atenção, principalmente porque eles usam alguns caracteres que não são usados no português, como o š, č e o ž. A pronúncia até que não é tão estranha, os fonemas não são muito difíceis pra quem fala português mas isso não faz a menor diferença: você fica completamente perdido, ehehehh... A parte boa é que quase todo mundo (especialmente os mais jovens) fala inglês muito bem então não é difícil abordar uma pessoa na rua e conseguir informações. Cheguei em Bled depois de vários zig-zags entre estradas principais, secundárias, estradas de terra, trilhas, sobes e desces e pontes, tudo isso no trecho dos 15km finais até a cidade. Chegando lá, procurei o primeiro lugar onde pudesse acessar a web e ver se tinha conseguido alguma hospedagem pelo CS. Consegui, mas não em Bled e sim e Begunje (pronuncia-se Begúnia em esloveno), um vilarejo (1.000 hab.) que ficava a 10km de Bled, numa subida, é claro... rsrsrs Aceitei a hospedagem e fui pra lá, onde encontrei a Saša (pron. Sasha) que me ajudou a subir com as malas até o apto dela. Tomei um banho e fomos num restaurante quase em frente a casa dela e voltamos logo. Ela mora com a mãe e a irmãzinha de 11 anos, que conheci um pouco mais tarde. Todas me receberam super bem. A Saša foi muito simpática, gentil e hospitaleira desde o começo e me deixou bem à vontade. Sua mãe (Marija) (Maria pra nós) não falava quase nada de inglês mas mesmo assim consegui me entender com ela, também muito atenciosa comigo. A irmã, Nina, me surpreendeu: falava um inglês incrível pra quem tem 11 anos. Uma graça de criança, super esperta e espontânea, falava com uma fluência e naturalidade que realmente me espantou. Dormi no quarto da Nina, que foi dormir com a Saša e a mãe dormiu na sala. Antes de dormir, fiquei pensando qual seria a chance de eu ter a experiência de passar uns dias na casa de uma família típica eslovena, num vilarejo no interior do país, vivendo com um esloveno por um período... Nenhuma, se não fosse o Couchsurfing. Todos os lugares onde me hospedei por ele foram os lugares que mais marcaram minha viagem até agora. Num hotel você fica totalmente isolado da cultura e da vida das pessoas pois vive e dorme como um estranho. Num albergue até existe a chance de interação mas se as outras pessoas do quarto não estiverem sozinhas como você, elas não vão conversar com você simplesmente porque têm outros com quem conversar, como se vivessem numa bolha. Mas com o CS é bem diferente, você acaba se integrando na vida das pessoas naquele lugar e a sensação é de que você realmente faz parte daquilo tudo, ao menos por um tempo. Mudando de assunto, as fotos aí embaixo ficaram engraçadas porque o espertão aqui passou protetor solar no rosto sem espelho e não reparou que sobrou uma parte sem espalhar bem embaixo do olho esquerdo. Então em várias fotos eu tô com uma MANCHA branca super legal na cara, ahahhahaha... O engraçado é a segunda foto (em que eu tô com a bike em frente ao Spar) foi o tiozinho que tirou e nem comentou nada. Ele VIU eu passando o protetor enquanto a gente conversava e não falou nada o maldito... rsrsrsrs




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2 comentários:

  1. Se os caras daí mesmo pararam para aplaudir... realmente a subida de bike deve ser coisa de brasileiro louco mesmo hehehehe
    Abraz!!

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  2. Fernandão, você com esse olhinho aí tá parecendo o Rappin Hood: http://migre.me/Stmz

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