31 de mai. de 2010

30/05 San Bernardino

Claro que NÃO fez sol. Pelo contrário, a chuva estava bem constante e o frio já incomodava pra andar na rua. Conforme combinado com o Eduardo, passei no restaurante de manhã pra ver as condições. Precisava saber primeiro se o passo estava aberto e, segundo, se eu ia encarar atravesá-lo com o tempo daquele jeito. Tomei um café e fiquei conversando com ele, esperando alguma mudança no tempo, até porque em San Bernardino o tempo pode mudar MUITO rápido de um frio, neblina e chuva pra céu azul e calor em meia hora. Eu vi isso acontecer ali nos dois dias em que fiquei na cidade. Conversa vai, conversa vem, a chuva não passava e o Eduardo me ofereceu estadia - de graça - em um dos aptos que ele tem pra alugar lá em San Bernardino (além do restaurante, ele tem aptos para alugar durante a temporada e uns tratores para limpeza de gelo; o cara é muito esperto e ganha dinheiro com vários negócios). Fiquei sem graça em aceitar um convite assim e me ofereci para pagar pelo menos uma parte mas ele fez questão que eu ficasse de graça. E eu topei. Desmontei as coisas da bike e ele me levou ao apto, que fica no mesmo prédio onde ele mantém o restaurante no térreo. O apto é completo e muito bem montado, com uma pequena cozinha, banheiro, cama de casal, TV e uma mini sacada. Fiquei puto por ter que ficar mais um dia lá mas por outro lado fiquei muito feliz em ter tido essa oportunidade e nem soube como agradecer ele. A tarde o tempo estava um pouco melhor e fiz uma caminhada na rua principal da cidade (que é onde passa a estrada que corta a cidade) e tirei umas fotos. A esposa dele me ajudou a usar a máquina de lavar do prédio e aproveitei pra dar um trato nas roupas. Não podia ter sido melhor. À noite, conversamos sobre as condições do tempo pro dia seguinte e a esposa dele me disse que a previsão era de chuva e neve. Eu ri achando que era brincadeira e ela disse que não. O Eduardo me recebeu tão bem que eu poderia ficar mais uma semana ali que seria muito bom, mas já tava na hora de eu voltar a pedalar de novo. Acho que quanto mais tempo parado, mais preguiçoso eu fico. E eu tenho me sentido bem disposto pra pedalar o quanto puder. É só o tempo dar uma trégua. Oremos novamente.


29/05 San Bernardino

Acordei sem pressa já que era um dia pra descanso. Mas com a chuva não me animei muito pra andar pela cidade. E não há muita coisa pra fazer numa cidade de 120 habitantes. O albergue que eu fiquei se chama Capanna Genziana e parece com um casarão todo de madeira onde há um salão principal, onde é o restaurante, e uma área separada, onde ficam os quartos dos hóspedes. O dia inteiro passa gente gente pelo restaurante pra comer alguma coisa. Fiquei pela manhã só enrolando no quarto, esperando pelo horário do almoço. Com mais calma, comecei a reparar melhor em todas as instalações do albergue e percebi que o troço todo era bem simprão, tudo meio empoeirado, quebrado, abandonado e tals. Acho que quando cheguei no dia anterior o frio era tanto que nem reparei em nada disso. Quando fui almoçar, prestei atenção no pessoal que trabalhava na cozinha inclusive a tia que a era a dona do lugar. Preferi comer logo antes de pensar sobre a higiene da cozinha, limpeza e coisas desse tipo porque senão ia acabar desistindo. À tarde, fui no centro (?) da cidade e deixei minha bike numa loja de bikes pra que fizessem um pequeno ajuste porque a corrente estava começando a pegar no câmbio dianteiro. O senhor que me atendeu foi muito atencioso e aproveitou pra limpar toda a parte da transmissão. Enquanto isso, fui ao resturante do Eduardo, o português que é o dono do negócio lá junto com a esposa. Tomei um café e ficamos conversando um tempão sobre como é a vida na Suíça, sobre como ele mudou pra San Bernardino, sobre os turistas que passam por lá, sobre a administração do restaurante e de outros negócios deles e etc. Ele me pareceu um cara muito realizado, feliz, adaptado à vida e a cultura do povo suíço. Eles têm 2 filhos, que nasceram já na Suíça. Sempre que dá certo, eles viajam pra Portugal várias vezes por ano. Comentamos também sobre o hotel que estava hospedado e ele tirou sarro de mim, perguntando sobre a limpeza do lugar, ahahhahah... Eu disse que estava mesmo meio desconfiado e ele falou uma coisa engraçada: disse que nem sabia como um lugar como aquele ainda estava funcionando, não era nem um pouco parecido com o padrão suíço. E eu concordei!! rsrs Voltei ao albergue pra jantar de novo sem pensar muito. Pelo menos não passei mal depois. Deixei tudo pronto porque estava otimista quanto ao tempo do dia seguinte. a previsão dizia que faria sol, ideal pra atravessar o passo. Ainda no restaurante, o Eduardo me disse que não sabia se o passo estaria aberto pois ouviu dizerem que teve uma avalanche hoje e a polícia rodoviária teria fechado o passo pra fazerem a limpeza da pista. Um amigo do Eduardo (parece que todos os clientes conhecem ele por lá e são todos amigos) chegou a me oferecer uma carona no carro dele amanhã cedo caso o passo ainda esteja fechado. De carro é possível ir pelo túnel que atravessa o passo e já sai na rodovia lá embaixo perto de Splügen. O Eduardo também me disse que se eu precisasse ele me daria uma carona até lá. Claro que eu aceitei a ajuda, já que não queria ficar mais um dia parado por causa do clima/chuva/avalanche/terremoto/furacão/vulcão. E se eu pegasse a carona, iria perder de pedalar justamente a parte mais legal da região. Estou otimista pra amanhã. Oremos. rsrsrs

30 de mai. de 2010

28/05 Mesocco a San Bernardino - 14km

Saí do hotel bem cedo já pensando na subida de 14km até o vilarejo de San Bernardino (o passo fica à 7km depois do vilarejo). No primeiro giro do pedal montanha acima, saindo da única rua principal de Mesocco, já senti o que estava por vir. A elevação até San Bernandino pareceu mais forte que o Simplonpass, que apesar de 20km de subida, se mantinha constante até o topo (em torno de 10°). Isso acaba sendo bom porque você não é obrigado a fazer esforço extremo por muito tempo, e sim manter um regularidade sem ter que se matar pra subir. Já a elevação de SB me pareceu que começou muito mais próxima do passo, ou seja, todo o esforço que você faz deve ser concentrado em poucos kms. Tanto é que nos primeiros 20 minutos eu tinha andado 1.5km e já tava bastante ofegante, ehehehehh. Mas fui fazendo várias paradas a cada 10 minutos de pedal e, com ou sem sofrimento, os kms vão passando. As coisas realmente ficaram concentradas pra acontecer nos últimos 3kms: começou uma chuva forte, a temperatura caiu muito rápido (chuto que de uns 18 pra uns 10 em poucos minutos, afinal eu tinha entrado na região mais alta da montanha), meu corpo tava cansado, ensopado e começando a esfriar muito e, pra ajudar, minha garrafa de água já tava vazia. Essa hora eu senti que tinha que ter calma e um pouco mais de paciência porque logo estaria em San Bernardino. O foda é que parece que esse último kilômetro é o mais difícil, sempre. Logo avistei umas primeiras casas e percebi que estava entrando na cidade finalmente. A chegada na avenida principal era numa puta de uma merecida DESCIDA, o que tornou minha chegada MAIS agradável ainda, pois além da chuva, frio, cansaço e sede, o VENTO começou a congelar o meu rosto e a minha mão, além de ser muito mais chato de frear a bike com as rodas molhadas. Mas, pra minha sorte, assim que parei completamente a bike no meio da avenida, olhei pro lado e vi o escritório de turismo da cidade. Eu precisava achar o quanto antes um lugar pra ficar e o melhor seria perguntar ali. Não tinha ninguém dentro mas foi só eu chegar perto da porta de entrada que 2 pessoas saíram de um restaurante do outro lado da rua e me cumprimetaram, daí percebi que os 2 eram funcionários do escritório. Sinal de que a cidade é bem movimentada, não? O cara foi bem atencioso e me indicou um albergue na saída da cidade, já na estrada a caminho do passo. Lá fui eu escalar pedalar mais uns 300m pra chegar no albergue. É uma cabana/restaurante com alguns quartos e por 53 francos suíços tive café da manhã, almoço e jantar incluso, ou seja, algo em torno de 38 euros, bem em conta. Tomei um banho e fui almoçar pois ainda eram 13h00 (a viagem de Mesocco até San Bernardino levou mais de 3 horas e andei apenas 14km). Voltei pro quarto, dormi e no fim da tarde fui até o centro pra acessar internet via wi-fi. Por acaso, o único ponto de wi-fi na cidade era no mesmo centro de informações onde o cara me indicou o albergue. Fiquei uns minutos dentro do escritório mas eles já estavam fechando (porra, eu devia ser o único turista na cidade e eles ainda fecham o centro justo quando eu tô lá? rsrsrs). Falei pro cara que eu ia no restaurante em frente pra continuar usando e ele disse que não tinha problema. Aproveitei e pedi umas dicas sobre o roteiro pros próximos dias. No restaurante, finalmente vi os moradores da cidade, que até então parecia fantasma. Um casal de portugueses trabalha lá e conversamos um pouco, bastante simpáticos. O cara do centro turístico estava lá também pra tomar um café e, antes de sair, me passou um user e senha especial pra eu acessar a internet caso meu tempo de uso na rede deles expirasse. Não foi o primeiro e acho que nem será o último suíço a ser atencioso e hospitaleiro. O povo daqui faz de tudo pra te tratar bem. Me senti confortável mesmo estando no interior do interior do interior da Suíça. Amanhã vou tirar o dia pra não fazer nada e torcer pra que o sol apareça no domingo quando eu for seguir viagem. Pelo menos é o que diz a previsão por aqui. Se cuidem, crianças.



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29 de mai. de 2010

27/05 Locarno a Mesocco - 60Km

Logo que acordei percebi que o tempo ainda estava chuvoso mas me senti bem disposto pra encarar a chuva e o frio hoje. Tomei o café no albergue e assim que saí passei numa loja de bike onde pedi pro cara ajustar os freios, deixando eles mais firmes. Eu troquei os cabos um pouco antes de sair do Brasil e depois de um pouco de uso eles ficam frouxos e é preciso dar uma apertada. Paguei 6 euros pelo serviço e os freios estavam bem melhores, pronto pra encarar descidas (caso elas estivessem no plano pra hoje, o que não foi o caso). A chuva era só uma garoa fina e chata mas depois de uns 10 minutos pedalando, com o corpo já aquecido, nem me incomodei mais com a água. Cheguei em Bellinzona depois de 22km, numa viagem bem plana e tranquila. A cidade é menor que Locarno mas achei até mais interessante. Tem um centro antigo muito bem preservado e a área residencial é cheia de prédios modernos, bem ao estilo suíço. No centro de informações turísticas, tentei saber sobre as cidades que eu iria passar hoje, no caminho do Passo de San Bernardino. Todas elas são pequenos vilarejos. Aliás, não passarei por nenhuma cidade maior que Bellinzona nos próximos 5 dias pelo menos. Fiz uma pausa pra comer um pão e tomar um café e segui adiante. Saindo de Bellinzona, vi um camping e no meio do gramado vi um viajante de bike começando a montar sua barraca pra acampar lá. Chamei ele de longe e ele logo veio até a minha direção. Acho que o cara era alemão, pelo sotaque. Comentamos sobre o passo de San Bernardino e ele disse que amanhã era o primeira dia que o passo estaria abertoa o tráfego, pra nossa sorte (já que ele ia tentar cruzar o passo amanhã também). Ele disse que veio do Furkapass e eu estranhei pois a informação que tive em Interlaken era que todos os passos na Suíça - exceto o de Simplon - estariam fechados até o dia 28 de maio. Ele disse que o Furka foi aberto alguns dias antes da data prevista e portanto conseguiu atravessá-lo. Bom, não me arrependi nem um pouco pois o Simplon foi bom pra caramba. Aos poucos o tempo foi melhorando e o sol começou a aparecer. Passei por várias cidades como Grono e Lestallo, numa região entre as montanhas mas ainda plana e só depois de uns 45km comecei a perceber a elevação. Já com uns 50km pedalados passei por Soazza, onde pensei em dormir. Acontece que a entrada pra cidade, que fica ao lado da estrada, é um zig-zag absurdo com uma subida que até o pessoal de carro parecia sofrer pra passar. Parecia uma parede de uns 30 metros de altura e eu pensei comigo: nem fodendo acho melhor não. Então olhei no GPS e vi que mais uns 2km em frente havia o vilarejo de Mesocco e foi lá que eu parei. Fiquei num hotel-bar-restaurante onde jantei um spaghetti muito bom (ou era só a fome mesmo?). No fim das contas, o dia rendeu bastante considerando a chuva e a elevação. Como já estou a uns 800m, uma parte da subida ao Passo de San Bernardino eu já fiz hoje. Amanhã vou passar por lá, que tem oficialmente 2065m (um pouco mais que o Simplonpass). Se a paisagem for a mesma, o dia promete.



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